Eleito como todos admitem, Tiririca será mais um a brincar de fazer política e a envergonhar a nobre arte, fundada na polis grega. Para este e outros da igualha, inexiste lei da ficha suja ou limpa. Diversa seria a situação se o povo fosse educado, no amplo sentido da palavra, pois então saberia escolher e separar o joio do trigo, na expressão evangélica.
Não haveria a necessidade de leis, de interpretações doutrinárias e de julgamentos pelos tribunais, se o povo, ele próprio, empalmasse as rédeas da política, como fonte legítima de todo poder. Seria o juiz do seu próprio destino a prescindir de outros juízos. O quadro de ante-véspera de eleições, está falto de grandeza de audácia.
Não aponta para horizontes, mas para o próprio umbigo da indigência doutrinária, não faz vibrar o coração dos jovens, nem acende nos idosos antigas esperanças e ideais, não acorda a energia potencial adormecida, capaz de mover milhões de mundos, como lamentava Augusto dos Anjos, em soneto famoso.
Assiste-se presentemente ao velho cantochão, às cansadas e revisitadas promessas, à velha miss in encene dos atores, travestidos de ovelhas, quando não passam de lobos vorazes. Talvez, levados por esse vazio, vândalos atearam fogo na escultura ao escritor Monteiro Lobato, em cidade paulista batizada com o nome do criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo. É dele a célebre frase , jamais concretizada na vida nacional: " Um páis se faz com homens e livros."
À falta de uns e da leitura de outros advém toda a miséria social e política brasileira dos tempos da colonização até os dias presentes, onde pontificam os Tiriricas de todos os matizes: nas artes, na política, nas comunicações e na administração dos negócios.
