Somos uma nação ainda muito jovem, do ponto de vista da sua maturação como sociedade, como pessoas que vivem juntas, convivendo com semelhanças e diferenças
Somos jovens demais para termos aprendido com as lições que já tivemos sobre a corrupção, ao longo de nossa história, pois faltam-nos instrumentos fundamentais para tal, como:
- a solidez da percepção de que os valores coletivos são mais importantes que os individuais;
- a experiência com ações reativas perante os graves exemplos de corrupção em nossa sociedade;
- um grau de escolaridade real e não fictícia, fundamentada em valores humanos e não comerciais, onde todo aquele que estude efetivamente aprenda e apreenda conteúdos, e não faça parte tão somente de uma massa estatística fraudulenta como ainda hoje encontramos, com milhões de pessoas que, embora carreguem diplomas de formação, não possuem a capacidade de sequer ler e escrever, quanto mais de ouvir um argumento e realizar uma análise minimamente crítica do que se ouve;
- a maturidade de perceber que a impunidade não pode ser uma prática desejada para o outro e uma utopia para si mesmo. A maturidade de compreender que, ao final, todos perdem com a parcimônia que temos em relação aos nossos próprios atos ilícitos, de pequena ou grande intensidade; Uma maturidade que nos coloque no mesmo nível de julgamento com o próximo, no mesmo nível de tolerância, no mesmo patamar de punição.
Todos são sempre unânimes com relação à questão última apresentada, ou seja, todos concordam que o corrupto não pode, nem ao menos, se sentir impune, ou ter a menor percepção de que pode sair impune de alguma prática ilícita. Nesta categoria, estão todos os eventos alheios a que assistimos na mídia e que nos indignam: o político, o empresário, o policial, enfim, todos aqueles que enriquecem com o dinheiro público, especialmente, nos causam nojo, são motivo de nossas conversas indignadas em família, no trabalho, e, para eles, pedimos sempre o rigor da lei. Não pedimos nem menos, nem mais, apenas os rigores da lei. E isto é muito salutar, tal indignação é bastante desejável. Tal atitude é que diferencia um país do outro.
Porém, isto não funciona tão maravilhosamente bem assim, pois quando percebemos que compramos um carro ruim, tratamos de passá-lo adiante, para o próximo "trouxa". Quando sabemos que o político arrumou um emprego para o nosso filho, corremos a defender a qualidade técnica do nosso rebento. Quando procuramos um advogado brilhante para encontrar providenciais brechas na lei, para livrar um parente nosso das penas legais, não temos a mesma postura que teríamos se fosse o filho ou parente alheio.
Estranho? Não, típico de uma nação que está desprovida do segundo instrumento que mencionei acima, a consciência de que os valores coletivos não podem ficar em segundo plano. Mas nosso país ainda é assim, porque ainda é como disse acima, muito, muito jovem. Não temos aquela famosa, e muitas vezes erroneamente desqualificada, consciência coletiva de que o "meu" mal feito causa um desastre no corpo social. E a soma de vários maus feitos individuais, não importa o tamanho ou amplitude, devagar, mas constantemente, vão corroendo todo um país.
A ausência de uma política educacional séria, que alcance todos os atores que nela interagem, especialmente os professores, de forma a valorizá-los de verdade; uma política de educação baseada no mérito e não no apadrinhamento demagógico; uma política que privilegie a disciplina e o conteúdo, que não esteja apartada das necessidades de desenvolvimento do país e que não seja calcada em interesses eleitorais ou meramente financistas ajudaria em muito a formação de uma corpo social sólido, capaz de perceber que a corrupção não pode ter dois entendimentos diferentes: um entendimento para o outro, outro entendimento para si próprio. Em outras palavras, que não desejemos sempre sermos a exceção merecida.
Por fim, somando todos estes elementos, falta-nos ainda a prática de reagir, de transformar a indignação verbal em ação política, organizada e pacífica, capaz de anunciar àqueles que entendem a corrupção como uma prática normal que a sociedade está atenta e disponível para dar o respaldo às instituições jurídicas que têm a responsabilidade de coibir e punir os atos nocivos à coisa pública, principalmente.
Como somos jovens, temos mais de 500 anos de existência, de História, mas nem chegamos a meia idade, do ponto de vista de uma sociedade coerente com o que deseja e faz. Ainda, somos uma sociedade patrimonialista, talvez, mas isto deixo para os historiadores mais gabaritados opinarem.
Com o tempo, atingiremos o ponto em que todos, ou pelo menos a grande maioria, estarão aptos a olhar para eles próprios com os mesmos rigores com que olham o outro.
Por isso, deveríamos, entre outras tantas coisas, sonhar com o estudo da ética no Ensino Médio, mais urgente do que tantos outros estudos que já existem em nossas frágeis e débeis instituições de ensino. Nesse momento, a corrupção começará seu ocaso.
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